sábado, 9 de junho de 2012

TRABALHO DE CAMPO - PROPOSTA PEDAGÓGICA


VISITA AOS TERRITÓRIOS NEGROS E QUILOMBOLAS
DE PORTO ALEGRE

Profa. Dra. Carla Beatriz Meinerz e Profa. Dra. Lígia Beatriz Goulart

No dia 02 de junho de 2012, nosso curso de Pós-Graduação "O Ensino da Geografia e da História, Saberes e Fazeres na Contemporaneidade" realizou um trabalho de campo com seus alunos.
Após a aula, a turma se reuniu no pátio do Campus Centro da UFRGS para um almoço de confraternização e integração do grupo. Foi assado salsichão, servido com pão, alface, salada com maionese e refrigerantes. Nossos colegas Renan e André foram os assadores. Em seguida foram servidos docinhos secos como sobremesa.
Depois do almoço o grupo se deslocou do pátio da UFRGS, saindo do ponto onde existe uma pegada feita de metal. É uma obra de arte na forma da região planta do pé. Este desenho representa o mapa da África. O grupo saiu da Universidade atravessando as avenidas Sarmento Leite, passando por baixo da elevada, atravessamos a Perimetral. Seguindo pela calçada, passamos em frente ao mosteiro do Carmo. Seguimos até chegar ao largo (EPATUR ), hoje Zumbi dos Palmares. Do outro lado da avenida, existe um pequeno Quilombo com sua fachada decorada com máscaras africanas. Lá, aguardamos a chegada do ônibus Território Negros Afros Brasileiros em Porto Alegre. Fomos recebidos pela Profª Clarice que narrou todos os fatos durante o percurso, apenas para reiterar os fatos, lembremos que próximo ao Largo Zumbi há evidências da cultura Afro. Durante o percurso a Profª Clarice nos deu explicações sobre a religiosidade africana, alguns símbolos cromo: adjá, um sino africano feito de cobre. Chegamos à praça Largo da Forca, localizada na Praça Brigadeiro, próximo ao Museu do Trabalho e Usina do Gasômetro, onde ocorreu o enforcamento de 18 escravos. Nesta praça há um monumento, cuja forma lembra um Tambor com imagens representando cenas do cotidiano dos escravos. Este monumento foi uma homenagem aos negros que morreram lutando pela liberdade e igualdade. Deste ponto, avista-se o lago Guaíba.


Monumento do Tambor - Praça Brigadeiro Sampaio 
Praça Brigadeiro Sampaio
               Seguimos a Igreja das Dores. Em frente a Igreja, há o Pelourinho (local para castigar aquele que se rebelasse contra as autoridades da época). A Igreja foi construída pelos escravos. Dizem que um escravo chamado Jócimo, foi acusado de roubo e morto injustamente. Este escravo era muçulmano. Jócimo jurou inocência e disse: “Eu não cometi crime. Esta igreja não fica pronta”. Até hoje percebemos que esta obra é inacabada. Próximo à igreja das Dores existem os quartéis que também foram locais de presença negra. Saindo na Rua Bento Martins, encontramos uma casa em estilo português, residência dos senhores de escravos. A casa tinha janelas retangulares e na parte inferior (porão) ficavam as senzalas com janelas pequenas. Isto demonstra o poder sobre o mais fraco.

Igreja das Dores, em Porto Alegre, RS.


Segundo MAESTRI, 1986,  a onipresença urbana e rural do escravo negro foi uma realidade própria ao Brasil e a América Escravista. Em seguida nos direcionamos para a Alfândega, lugar onde se reuniam as mulheres negras quituteiras que vendiam seus produtos formando uma feira. Este fato ocorreu após a abolição. Além das mulheres quituteiras, sabemos que os escravos, muitos deles tinha profissão como: alfaiate, sapateiro (confeccionavam sapatos à mão), ferreiro e outros.

Segundo FLORES, 2010, o negro quer Forro ou escravo participa como mão de obra na cidade e no campo. 
   
Saindo deste lugar, nos direcionamos para o Mercado Público de Porto Alegre, que foi construido em 1869 pelos escravos. Há relatos de que o Mercado Público tem quatro assentamentos de Orixás. Segundo informações da Profª Clarice, o “Bará" está sentado no centro do Mercado, local onde estivemos em visita e fizemos um ritual, jogando balas de mel e moedas de cinco centavos. Oramos pela paz mundial e pela saúde. Na época o governador do Estado, Júlio de Castilhos, trouxe o Príncipe Custódio para fazer orações, pois Júlio estava doente precisando de auxílio do astral superior.Foram citados outros orixás, Exu (é do bem), Iemanjá, deusa das águas.

Saindo da cidade alta para a cidade baixa, encontra-se a Santa Casa. Foi construída longe devido as doenças para tratar as escravas doentes. Elas entravam descalças deixando seus calçados na entrada.


QUILOMBOS

Local ou região onde a comunidade negra se refugiava, viabilizando a criação de um território social, cultural e religioso e militar. Um exemplo de organização foi o Quilombo dos Palmares na Serra da Barriga em Alagoas.
Quilombo do Silva (urbano), bairro Bom Fim em Porto Alegre, cidade baixa.
Colônia Africana fica no bairro Rio Branco, próximo às ruas Castro Alves, Casemiro de Abreu, Liberdade e Vasco da Gama.
Redenção, ali estão todos os trabalhadores negros. Os negros iam até à Santa Casa, através de túneis escavados por eles por volta de 1884.  Havia um mercado no Bom Fim, que era abastecido com produtos hortigranjeiros que vinham de Viamão e arredores. Este espaço da cidade foi se transformando, pois os Judeus adquiriram vários prédios que acabaram empurrando os negros para os outros bairros da cidade como: Partenon, Restinga, Viamão e Alvorada. Percorrendo a avenida Silva Só, encontramos o reduto do Samba. A ladeira Cabral é o berço do Samba em Porto Alegre. Ali estão as escolas de Samba mais tradicionais da cidade. Após a abolição, alguns negros se estabeleceram como alfaiates; temos o exemplo do senhor Julinho que hoje está com 90 anos. Julinho reside próximo ao berço do samba. A casa dele tem na frente dois toldinhos, onde ele atende. Em seguida, passamos próximo ao Acadêmicos da Orgia, os negros escravizados eram pagãos, recebiam o nome dos senhores, a exemplo, Silva, Santos etc. Ao longo do percurso passamos pela avenida Ipiranga que chamou a atenção uma frase que dizia: Brigada racista, Valeu Zumbi. Logo em seguida passamos próximo ao Arroio Cascatinha e Arroio Dilúvio. Encontramos o centro Lupicínio Rodrigues.

Ladeira Cabral, berço do samba em Porto Alegre, RS.
Ilhota, segundo Sandra Pesavento:

A “Ilhota” esteve sempre sujeita as freqüentes enchentes do riacho no meio do qual se encontrava. Como este fazia Jus ao nome que veio receber Arroio Dilúvio-, a região estava frequentemente alagada e, desde o início sempre foi ocupada pelas camadas mais pobres da população, na sua quase totalidade, negros e mulatos.

Do outro lado está o campo de futebol, A Liga da Canela Preta. O time Internacional não quis jogar neste local, mas o Grêmio aceitou participar do jogo. Sabemos que o cantor Lupicínio Rodrigues é o compositor do hino do Grêmio. O primeiro negro contratado pelo Grêmio é o tesourinha, o nome veio do bloco das Tesouras. Passamos em frente ao teatro Renascença, situado no bairro Menino Deus. Existia o clube Prontidão que se mudou para a Alvorada. Continuamos o percurso e encontramos o Museu Felizardo, onde aparece a casa do Senhor de escravos e a Senzala.

              Continuamos percorrendo as ruas e chegamos à casa do Barão e da Baronesa do Gravataí (cidade baixa), “Quilombo Urbano, são casas e sobradinhos rústicos, usados pelos Quilombolas, que hoje estão na quinta geração”, está situada na Avenida Luís Guaranha em Porto Alegre, que era uma residência para veraneio. Ao falecer a baronesa, a propriedade ficou para a Santa Casa. Esta propriedade foi comprada pelo Ministro Luís Guaranha, que ao falecer, não tendo herdeiros, deixou a casa novamente à Santa Casa.


 A foto abaixo mostra o Areal e o Riacho.


Foto do Riachinho início do século XX, 
Fotógrafo Lunara-Acervo Museu Joaquim José Felizardo/Fototeca Sioma Breitman.
Estudo Quanti-qualitativo da População Quilombola do Município de Porto Alegre/RS.

 

Mapa - Areal – Bairro Menino Deus – Região Centro.

Fonte: http://maps.google.com.br, consultado em 23/04/2008.
 

 Mapa – Imagem de satélite: Quilombo do Areal e entorno.
Fonte: http://maps.google.com.br, consultado em 23/04/2008.
Os remanescentes dos escravos que vivem nesse Quilombo, não podem vender as moradias. Só podem utilizá-las.


Casario do Quilombo do Areal - Av. Guaranha





            Visitamos o Quilombo do Areal, na cidade baixa. Entramos na casa que representa a Associação Comunitária e Cultural Quilombo do Areal. O prédio é conservado, possuindo dois pisos. Visitamos a parte inferior que é toda lajotada. O teto é de concreto pintado de branco e as paredes pintadas de verde. Há uma escada que conduz para o segundo piso. Conversamos com a líder da comunidade que nos disse: “A comunidade aguarda o Termo de Posse do Quilombo”.



Quilombo dos Alpes, situado no bairro Glória, é uma área de terra com 250 ha com mata nativa e vertente, com vista para o Guaíba nos quatro ângulos, despertando, com isso, o  interesse do mercado imobiliário.

A foto mostra a estrada que dava acesso à área dos Alpes.

 Paisagem na Grande Glória, 1901.
Fotógrafo Lunara-Acervo Museu Joaquim José Felizardo/Fototeca Sioma Breitman
Estudo Quanti-qualitativo da População Quilombola do Município de Porto Alegre/RS.



 Mapa – Alpes - Bairro Cascata – Região Glória.
Fonte: http://maps.google.com.br, consultado em 23/04/2008.


 Mapa – Imagem de satélite: Quilombo dos Alpes e entorno.
Fonte: http://maps.google.com.br, consultado em 23/04/2008.
    


  Quilombo do Salto do Jacuí, as mulheres usavam os cabelos altos.

            Para a antropóloga Ilka B. Leite: “a ressemantização do termo Quilombo veio a traduzir os princípios de igualdade e cidadania negados aos afro-descendentes”. Portanto, o Quilombo passava a ser interpretado “como direito a terra", enquanto suporte de residências e sustentabilidade, há muito almejadas, nas diversas unidades de agregação das famílias e núcleos populacionais. Já, segundo Saint Hilaire “Veem-se também em Porto Alegre, negros que mascateiam fazendas pelas ruas”. 

            Analisando o texto de Saint Hilaire, no livro Viagem ao Rio Grande do Sul, encontramos uma citação que fala sobre o relacionamento do escravo e o senhorio. Cita Saint Hilaire: “Como já disse, os habitantes do Rio de Janeiro desgostosos de seus escravos, vendem-nos para esta Capitania e, quando querem intimidar um negro, ameaçam-no de enviá-lo para o Rio Grande. Entretanto, não há talvez, no Brasil, lugar algum onde os escravos sejam mais felizes do que nesta Capitania. Os senhores trabalham tanto quanto os escravos; conservam-se deles tratam-nos com menos desprezo. Os escravos comem carne à vontade; não vestem mal; não andam a pé; sua principal ocupação consiste em galopar pelos campos, o que constitui exercício mais saudável do que fatigante, em fim; ele faz sentir aos animais que os cercam uma superioridade consoladora de sua condição baixa elevando-se aos seus próprios olhos”.(Saint Hilaire, p. 52, 2002).

Mapa de localização das Comunidades Quilombolas 
nos Bairros de Porto Alegre.

 
Mapa de localização das Comunidades Quilombolas 
nas Regiões de Porto Alegre.


Este projeto tem por objetivo implementar as ações culturais e educativas de contribuição, resgatando e valorizando a presença Africana na cultura brasileira. A partir da lei 10.639/03 fica obrigatoriamente o ensino da cultura Afro nas escolas. O projeto contou com uma produção textual abordando o conceito de Quilombo, as profissões dos escravos, a localização Geográfica e Histórica no período do século XIX. Bem como, a religião, a Arte, a Dança, a Culinária. Ao concluirmos a teoria da temática, passamos para a prática demonstrando a influência Africana no Brasil.

1) Possibilidades Pedagógicas no Ensino de Geografia e História que o Projeto “Territórios negros”é capaz de viabilizar.

Propor atividades em grupo de 3 a 4 alunos:

a) Realizar uma consulta de 10 palavras de origem africana. Colocar o significado de cada palavra. Apresentar para a turma em forma de debate. Usar como fonte de consulta: Site da Web, dicionários, livros e revistas.

b) Solicitar ao grupo de 3 a 4 alunos para pesquisar o nascimento de João Cândido, o Almirante Negro, e seu papel social.

c) Localizar no mapa geográfico do Rio Grande do Sul, as cidades onde se encontram os Quilombos.

d) Pedir aos alunos que façam um mapeamento da origem de sua descendência.

e) Trabalho em grupo: Faça uma análise da música “Upa Negrinho”, cantada por Elis Regina, cada aluno deverá expor sua opinião.


2) Destacar temáticas, conceitos, experimentações a serem exploradas a partir do projeto.

Temática: Consciência Negra

Conceito: Reflexão sobre a importância do povo Africano nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos.

Experimentações a serem exploradas a partir do projeto:

- Religião, Canto, Oração, Umbanda e Camdomblé;
- Culinária Afro (Acarajé, mungunzá, quibebe, farofa, vatapá, feijoada, angu, cuscuz, pamonha, quiabo, azeite de dendê, leite de coco, temperos e pimentas).
- Utensílios usados na cozinha Afro ( panelas de barro e outros, colheres pau).
- Música ( Samba, Afoxé, Maracatu, Berimbau, Cuíca e Agogô).
- Dança :capoeira (defesa) considerada patrimônio cultural brasileiro.
- Arte, Teatro

BIBLIOGRAFIA

Cadernos Pedagógicos. Série Memórias das Lutas Sociais, semana da consciência Negra. SEC. Rio Grande do Sul, 2003.

FLORES, Moacyr. Negros na Revolução Farroupilha. 2ªdição – EST- Edições, 2010.


GEHLEN, IVALDO, et al. Estudo Quanti-qualitativo da População Quilombola do Município de Porto Alegre/RS. Estudo, objeto do Contrato nº 026/2007 – UFRGS/FAURGS – FASC. UFRGS/IFCH: maio de 2008, 140p., Porto Alegre, RS, 2008.

HILAIRE, Saint’ De Auguste. Viagem ao Rio Grande do Sul, Martins Livreiro- 4ª edição- Porto Alegre, RS, 2002.

MAESTRI, Mário. Breve História da Escravidão, Série Revisão 25,  Mercado Aberto, 1986.

MAESTRI, Mário. O Negro e o Gaúcho. Estâncias e Fazendas no Rio Grande do Sul – Uruguai e Brasil, Editora UPF – Coleção Molengo l4.2008.

PESAVENTO, Jatay Sandra. Lugares Malditos: a cidade do “outro” no Sul brasileiro (Porto Alegre, passagem do século XIX ao século XX) UFRGS.

PEREIRA, Luciana Teixeira, SILVA, Cândido. Projeto Teleco-teco- volume I. Datas comemorativas, 1ª Edição, Editora Sapiente, 2010.

Teoria e Fazeres. Caminho da Educação Popular. Volume XIV /2008 – Encontro Internacional de Educação. Gravataí. 2008.